quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O TRÁGICO FIM DE MUAMAR KADAFI (por Theófilo Silva)



Poucos líderes do oriente odiaram e trabalharam tanto para destruir o ocidente quanto o ditador da Líbia Muamar Kadafi. Os sofrimentos que a humanidade passou, causados pela destruição da economia mundial, liderada por ele, em 74 e 75, com o chamado choque do petróleo, foram semelhantes ao de uma guerra. Mas pouca gente sabe disso.

Gênio político precoce, Kadafi tomou o governo da Líbia aos 27 anos, em 1967. Consolidado o poder, aproveitou o fim da guerra do Yon Kipur, para levar a OPEP a boicotar as nações ocidentais, multiplicando o preço do petróleo.

A medida paralisou as economias de países ricos e pobres e o desemprego se alastrou. A fome matou milhões na Àfrica, América latina, e Àsia. O Brasil não aguentou e teve de tomar vultosos empréstimos. A cidade de Nova York faliu e os árabes acumularam dinheiro suficiente para comprar todas as bolsas de valores do mundo.

Passado o choque, e sem ter conseguido liderar o mundo árabe, ele mudou de tática, passando a financiar o terrorismo mundial, transformando a Líbia num campo de treinamento de assassinos. Mandou sequestrar e metralhar pessoas ao redor do mundo – no caso mais famoso, explodiu um avião da Pan Am matando 270 pessoas, de nacionalidades diversas. Por esse crime, ele foi isolado pela comunidade internacional por vários anos, e só voltou quando assumiu a responsabilidade pelos assassinatos e pagando uma indenização bilionária.

Antes, em 1986, os americanos bombardearam a capital da Líbia em represália aos ataques terroristas. Em seu retorno, já sessentão, Kadafi adotou uma postura mística de líder espiritual, trajando vestes bizarras, aparentando meditar em tendas espalhadas pelo país. Enquanto isso seus filhos viviam como reis em residências espalhadas pela Europa.

A Líbia é o país mais rico da África, de pequena população, petróleo de altíssima qualidade, e muitas tribos, que foram pacificadas com mão de ferro por Kadafi, que governou o país por 42 anos. Seu poder era absoluto e sem oposição. Ele tinha 200 bilhões de dólares depositados em bancos estrangeiros em nome de instituições Líbias. Esse valor é a maior quantia já manipulada por um único homem em toda a história da humanidade.

Cansados de seu regime brutal e de sua família esbanjadora, na onda da chamada primavera árabe, o povo líbio exigiu liberdade e direitos, mas foram violentamente rechaçados. A guerra civil explodiu, e uma coalizão da OTAN liderada pela França apoiou os rebeldes. Depois de resistir tenazmente por vários meses, e muitos milhares de mortos – de ambos os lados – depois, Kadafi foi encurralado. Suas horas finais foram terríveis, e ele sofreu muito. Foi retirado de dentro de um esgoto, sendo brutalmente espancado, arrastado e baleado por seu próprio povo, até pedir por clemência, que não obteve. Morto, foi exposto, como um bicho, no chão de um frigorífico, para que toda a Líbia, inclusive crianças, fizesse fila para ver seu corpo e o do filho, mortos. Foi enterrado sem direito a uma cerimônia islâmica, negada pelo mufti da Líbia.

O certo era que Kadafi tivesse direito a um julgamento. Mas os líbios não conhecem o que nós chamamos de poder do povo, estado de direito, democracia. A defesa do regime de Kadafi por algumas nações ao redor do mundo tem a ver com o dinheiro farto do petróleo líbio. Àqueles que vêm em Kadafi alguém que lutava contra o “imperialismo ianque” não conhecem História. Kadafi viveu como um tirano e morreu tragicamente como seus colegas: Mussolini, Hitler, Ceaucescu, Somoza, Trujilo...
Ao ver, na TV, seu corpo trucidado, lembrei-me de uma passagem de Shakespeare: “Ó morte sinistra, como é vergonhosa e repulsiva a tua imagem!”.

Não precisávamos das imagens do fim de Kadafi.


(O cearense Theófilo Silva reside em Brasília e é especialista em Shakpeare)

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