quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

NENHUM DE NÓS (Pedro Salgueiro para O POVO)

(André Kertész) 

Quantos carros neste momento atropelam, arrastam, esfolam alguém que está vivo? E em quais lugares do mundo acontece tal fato neste exato instante? Todos tão iguais, tão diferentes — a velhinha morta ao atravessar a rua para comprar fósforos, uma criança que parou sua alegre corrida atrás da bola fujona, um homem forte colhido na linha-férrea depois de ter recebido todo seu salário, a família que foi perder dois de seus membros na saída triunfal de um feriado na praia, os dois jovens esmagados em plena parada de ônibus enquanto namoravam — todos no mesmo instante e em todas as partes do mundo: tão diferentes e tão iguais.

O que nos une em todos estes acontecimentos? O que pulsa junto ao coração suspirante das vítimas? Essa nossa multidão de anônimos que largam tudo o que estejam fazendo. Batem no automóvel parado em frente. Soltam a mão do filho pequeno. Se arriscam a perder emprego e prestígio — para ir lá ver de perto. De mais pertinho que nos deixem... E arregalar olhos, e chorar lágrimas, e rezar terços: mas ter o que contar em casa, no trabalho, na escola — e ficar extremamente chateado se não acontecer nada, e sair inconsolavelmente desapontado se tudo acabar bem.

Um comentário:

Manuel Soares Bulcão Neto disse...

Boa, Salgueiro!

Lembrei-me até de uma anedota.

Fulano entrou em uma dessas lojas new age da Era de Aquário para comprar incenso. Ao ver uma pequena esfera negra de ferro puro, perguntou ao 'hippie' comerciante sobre o seu significado.
"É um meteorito" - disse o hippie - "e todos os que já o possuíram experimentaram, na vida, momentos de muita sorte."
Fulano, então, comprou o esferoide por uma fortuna.
Ao sair da loja, o meteorito escapoliu de suas mãos, indo parar no meio da pista. Ao tentar recuperá-lo, foi atropelado por um ônibus.
Passou dois anos na UTI, em coma, num 'morre-não-morre'. Até que, contrariando todas as expectativas, acordou.
O médico chegou para ele e disse:
"Rapaz, você não imagina a sua sorte de não ter morrido!"

Abraço e boas festas,
Manuel Bulcão

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