quarta-feira, 16 de maio de 2012

CÃES & GATOS (Pedro Salgueiro para o jornal O POVO)

  
  (Patrícia Highsmith e seu inseparável Hipley)

O mundo é dividido entre os que gostam de cães e os que adoram os gatos.
Não à toa não se dão lá muito bem: homens, cães e gatos.
Homens que gostam de cães adoram submissão, veneram os que lhes lambem diuturnamente os pés.
   (Cortázar e seu gato)
Homens que gostam de gatos são maus, misteriosos e solitários.
Há os que gostam dos cães por sua fidelidade, companhia e subserviência; já outros que os detestam exatamente por essas mesmas características.

Existem os que odeiam os gatos por sua frieza, arrogância e discritude; outros os amam exatamente por isso.
  (Caricatura de Edgar Allan Poe ao lado de seu gato preto)

Os cães são dos donos, os gatos são das casas... e blá, blá, blás (ou miau, au, aus!)
   (Kafka e seu cachorro)

Sempre desconfio dos que se apegam demais a uns e a outros. Dos que criam um número excessivo deles. Pra mim o mais claro sinal de loucura, de desequilíbrio mental.
  
 (Hemingway entre gatos)
Os dois passaram a ser por demais destacados, cuidados, amados, endeusados: terapias para os males modernos? Gostava da época em que não eram mais que adereços corriqueiros de um lar: comiam as sobras, dormiam num canto qualquer da cozinha, e se vacilassem recebiam um troco conforme fosse o humor dos habitantes: um afago ou um chute, um osso ou um grito...
  
(Lygia Fagundes Tellles com seu gato)
Winston Churchill afirmava que “os gatos são os únicos animais que nos olham de cima pra baixo”. Patrícia Highsmith dizia que “um cachorro pode ser utilizado ou comandado, mas um gato não obedece ordens.” Os escritores de literatura policial e de mistério sempre foram fanáticos por eles: Edgar Allan Poe e sua esposa Virgínia dormiam com um siamês lhes aquecendo os pés (e quem não se lembra do seu tenebroso conto “O gato preto”?), Raymond Chandler sempre escrevia com seu felino sobre a escrivaninha, o monumental Simenon frequentemente era fotografado com seu enorme persa negro, nossas Lygia Fagundes Telles e Clarice Lispector eram devotas confessas dos bichanos, João Guimarães Rosa também...
 
 (Clarice Lispector e seu cãozinho)
O escritor francês Roger Grenier escreveu um livro belíssimo, Das dificuldades de ser cão (aqui saiu pela Ed. Cia das Letras em 2002), sobre cachorros de literatos famosos: do mitológico Argos, de Ulisses, ao vira-lata mestiço de Thomas Mann; cães para todos os gostos.
   (João Guimarães Rosa mostrando seus gatos)

Entre os escritores cearenses conheço as preferências caninas do amigo Airton Monte e a idolatria saudável da bela Tércia Montenegro por gatos. Já a queridíssima Ana Miranda reparte seu coração e sua casa grandes igualmente para cães e gatos.
  (Tercia Montenegro com um de seus muitos bichanos)

Eu, modestíssimos escritor de província, prefiro gatos a cães. Precisamente pelos que os felinos têm de mais humano: os defeitos. E não gosto muito de cachorros talvez pelo simples fato de que um dia, na infância, fui mordido na canela por um magro vira-lata branco.

  (Faulkner entre cães)

PEDRO SALGUEIRO   

2 comentários:

Rebeca Xavier disse...

eu gosto dos gatos, do que não gosto é a mania incontestável que eles têm de se deitarem em cima das minhas provas, ou de passarem por cima de minha bolsa, sem que fossem sequer convidados...
eu gosto dos cães, do que não gosto é do costume insustentável que ele têm de aproveitarem qualquer brecha por um colo...
de qualquer maneira, prefiro cães a gatos, da mesma forma que prefiro gatos a cães.
mas pensei muito na hipótese de um ramster.

Tércia Montenegro disse...

http://escritablog.blogspot.com.br/search/label/conto

Pedríssimo,

Neste link acima, de um blog que eu acompanho, há um conto do Bruno Schultz. Dá uma olhada; parece que não foi publicado nas edições anteriores em livro.

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