terça-feira, 23 de outubro de 2012

CEARENSE SIDNEY ROCHA GANHA O JABUTI

Tragédias de libertação

Com o olhar voltado para as sutilezas de pequenas tragédias cotidianas, o cearense Sidney Rocha venceu o Prêmio Jabuti 2012 na categoria contos e crônicas com o livro O Destino das Metáforas. A publicação está sendo traduzida para o alemão e será lançada em Frankfurt
 
 
DIVULGAÇÃO
Sidney: reverência a autores cearenses como Gilmar de Carvalho e Pedro Salgueiro
 

Foi com vontade de “reinventar o mundo” que, na década de 1980, Sidney Rocha deixou seu amado berço para conquistar terras mais distantes. Por vezes, chegou a julgá-las impossíveis. O jovem de outrora, natural de Juazeiro do Norte, hoje vive divido entre São Paulo e Pernambuco. Quase trinta anos depois da migração, mesmo exibindo alguns grisalhos fios de cabelo, não deixou morrer sua ânsia por liberdade, conquistada através das palavras.


Na última semana, foram anunciados os vencedores da edição 2012 do Prêmio Jabuti. Sidney foi o vencedor na categoria contos e crônicas com o livro O Destino das Metáforas, publicado em 2011 pela Iluminuras. Além do prêmio, a obra também está sendo traduzida para o alemão pela professora portuguesa Luisa Costa Hölzl, e será lançada durante a Feira do Livro de Frankfurt, em 2013.

A obra de Sidney é para quem aprecia os contrastes da vida, os sofrimentos e as belezas das pequenas tragédias do dia-a-dia. São histórias curtas, que emanam liberdade e, por vezes, parecem até roteiros de cinema. “A frustração, a vingança, o desejo de fuga e muito mais do turbilhão de emoção e fantasia do nosso tempo, estão aí queimando nas páginas deste livro de anti-ajuda”, adianta o prefácio, assinado por Mário Hélio.

Crescido num espaço onde mal havia biblioteca, o escritor valorizava os livros como bens preciosíssimos. Na época, Sidney se reunia com os amigos em conspirações juvenis, onde planejava seus protestos de militância esquerdista, e comungava com seus pares as poucas obras literárias que lhe eram possíveis. “Sabíamos que havia o mundo lá fora, mas parecia que ele não era pra nós, e era preciso atuar na realidade possível: nossa aldeia. Estávamos encarcerados”, lembra.

Mesmo com toda sua paixão pela cultura popular e pelas peculiaridades das suas terras, Sidney decidiu sair do Cariri para fazer faculdade em Recife, onde seus sonhos começaram a virar realidade. “Saí do Ceará para estudar Psicologia. E o Recife tinha uma atmosfera cultural importante na época. Em 1985, ganhei o Prêmio Osman Lins de Melhor Romance, com Sofia, uma ventania para dentro”, destaca.

Modesto e sem rabo preso, Sidney acredita que o Jabuti é apenas um reconhecimento ao seu trabalho. O prêmio de R$ 3.500 certamente é pouco diante da sua obra, mas, para ele, o que mais importa é a promoção da literatura brasileira e o estímulo ao hábito de ler. “Prêmios têm uma única aplicação prática: promover a leitura da obra do autor. É preciso estimular especialmente a leitura no Brasil. Ao escritor, resta somente uma obrigação: escrever bem. E escrever hoje melhor que ontem”, frisa.

Da primeira publicação, um pequeno cordel escrito ainda no Cariri de 1972, até os dias atuais, são vários livros lançados. Dentre suas principais obras, estão o livro de poesias Mais que o Rei, de 1991 e o romance Matriuska, de 2009. Além dos contos, poesias e romances, seus escritos também perpassam pelos roteiros para TV e Cinema. “Faço uma literatura de possibilidades e se algo difere entre o meu trabalho e o sonho de uma criança ou a imaginação de um drogado ou a experiência de um homem comum, a diferença está somente na forma”, disse ele certa vez em entrevista ao site literário Verbo 21.

Cearensidades
Mesmo estando distante do Estado, Sidney não deixa de acompanhar a produção local. “Há escritores no Ceará que merecem ser lidos pra recuperarmos décadas perdidas”. Ele faz questão de elencar autores e obras cearenses que influenciaram sua trajetória. Entre os nomes citados, estão Marco Leonel, seu conterrâneo que “é excelente poeta”. Outra referência é Anchieta Mendes, que escreveu Círculo de giz; e Lupeu Lacerda, com Entre o Alho e o Sal.

Sidney também destaca a produção literária de Fanka Santos, Gilmar de Carvalho, Rosemberg Cariry, Stenio Diniz e Pedro Salgueiro. Ele frisa nomes de jornada compartilhada, como Ronaldo Correia de Brito, Xico Sá e Samarone Lima, “cearenses que escolheram também o Recife para viver”.

Sobre os novos autores, aos poucos Sidney, vem tentando se atualizar. “Estou tomando conhecimento de uma cena literária bem atuante no Estado e venho buscando conhecer melhor”, afirma.

SERVIÇO

Livro O Destino das Metáforas (2011)
Editora: Iluminuras (120 páginas)
Quanto: R$38
 

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