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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

SEM ANUNCIAÇÃO (por Karla Gomes)


De Ana e Manoel nasceu José, preto e raquítico como esperado. Entre os sovacos da Serra Grande, naquela noite do dia 24, nenhuma estrela riscou o céu anunciando sua chegada, também não vieram presentes, mas a morte espreitava acocorada na trempe. 

José cresceu, amou uma mulher e muitas outras, e dele nasceu filhos e netos. Fez fortuna rala, alimentou bocas e sonhos, dividiu com irmãos e amigos o pão de cada dia, abriu suas portas para os loucos, miseráveis e subversivos sem pedir nada em troca. 

Na luta cotidiana, engendrou folguedos e brigas – esperança grande nos homens. 

José não foi Jesus, mas nasceu quase no mesmo dia. Morreu não na cruz, mas deixou grande saudade. 
 
Karla Gomes
 
*Copiado do blog: http://sabicrateus.blogspot.com.br//
 
 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

70 ANOS DE MARIA VALÉRIA REZENDE (por Alfredo Monte)

A VERDADEIRA SENHORA DO DESTINO: o mundo cada vez mais vasto de Maria Valéria Rezende

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A Valentina, que sem saber me deu um presente tanto para o leitor quanto para o homem, em termos de literatura, amizade e aprendizado de vida. Aqui vai meu agradecimento tardio.
Já contei essa história algumas vezes, mas nunca por escrito:
Um dia, em 2001, encontrei na minha caixa de correio, o exemplar de um livro. Nunca ouvira falar da autora ou da editora. Uma carta o acompanhava:
Prezado Senhor,
   Tomei a liberdade de pedir seu endereço para a ***********[o nome da pessoa não vem ao caso].
   Maria Valéria Rezende é minha irmã.  Sua história de vida, um tanto quanto movimentada e rica, aliada a sua sensibilidade, fez dela uma escritora, conforme atesta Frei Betto no prefácio de “Vasto Mundo”.
   É com muito orgulho que me envolvo pessoalmente no lançamento de seu primeiro livro de ficção.
Etc etc. Fiquei muito bravo. Que folga! Que petulância! Imediatamente liguei para A TRIBUNA solicitando encarecidamente que não fornecessem mais meu endereço em situações similares, em hipótese alguma. Já pensou? Devia de ser uma senhorinha, como tantas as há, que transitam entre a coluna social e o exercício do beletrismo (o nome todo indicava isso: Maria Valéria Vasconcelos Rezende). Como moro na Baixada Santista, sempre fugi de um certo tipo de lançamento bem provinciano, sempre evitei fazer resenhas que só serviriam para vivificar a fogueira das vaidades locais.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

SEGREDOS (Pedro Salgueiro para O POVO)


“O que se diz é que o desejo atual das pessoas de se mostrar, de se exibir, de que sua vida tenha testemunhas (o exemplo citado é o das pessoas que penduram sua vida na internet), talvez seja o resultado de uma nostalgia da velha idéia de que Deus era testemunha de tudo que fazíamos, de nossa vida inteira.”
(Javier Marías, entrevista aO GLOBO)

Numa das poucas pistas que deu para o fato de ter deixado de escrever (ou pelo menos de publicar), Raduan Nassar disse, em rara declaração, que o escritor é como aquele menino que os pais colocam na sala diante das visitas para se mostrar: recitar versos, cantar de cor uma canção, fazer “de cabeça” operações matemáticas, tocar algum instrumento musical ou simplesmente dizer gaiatices.
Sempre me intrigou o motivo que leva alguém a transpor para o papel (hoje a tela) seus segredos mais bem guardados, suas taras mais secretas, seus instintos menos públicos. Deixa-me de cabelo arrepiado (o pouco que tenho) a perspectiva de que um estranho me desvende atrás do novelo de uma frase. Que do emaranhado de palavras brote, para um atento leitor, o monstro que sou (somos todos nós!?) na intimidade do coração.

BRIBA (por Ruy Vasconcelos)

Seu Estimado Animal



A logo da Briba Design,  desenvolvedora de projetos e soluções de design digital com sede em Fortaleza


que animal de estimação mais marcou a sua vida? - perguntou Arthur, o repórter, em mais um instante Selbst-Interview 

e a celebridade Arthur respondeu: fácil, as víboras, lagartixas, traruíras, sardanitas, osgas, bribas, etc. São assim chamadas de acordo com freguês e região. Não confundir com o calango, que é bicho mais asqueroso e cheio de escamas. Ao contrário das bribinhas, o calango está por fora. A briba, no entanto, lembra o Interior, até no nome. No Interior do Ceará, quando víbora foi palavra difícil e proparoxítona, a linguagem mais sábio, do povo, simplificou para briba. E uma casa sem bribas, não é bem uma casa. Um quarto de casa sem elas, não é bem quarto, é algo menor. É quinto ou sexto. Ou sábado
e, no entanto, as bichinhas são, sem dúvida, os animais domésticos mais esquecidos que existem. Embora admiráveis. Não são bobonas como cães. Nem traiçoeiras e malandras como gatos. Não latem. Não miam. Não soltam pelos. Não mordem ou azunham.¹ Não emporcalham a casa

do contrário. trabalham duro, diminuindo o número de insetos ambiente. E o trabalho é voluntário, porque não ganham nem ração, nem carinho

*Copiado do blog http://afetivagem.blogspot.com.br//                                                                           


**Destaco este interessante texto do jornalista Plínio Bortolotti sobre o tema:

 
Por: Plínio Bortolotti | Comentários:
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Quando li “osga”, sabia que era lagartixa, não por ser palavra comum, de uso corrente. Eu a ouvi uma única vez há mais de vinte anos quando eu e uma amiga mineira observávamos algumas bribas (é assim em cearensês) caçando insetos na parede.

Minas Gerais
Ela me contou, então, que em Minas Gerais, se diz estar “caçando osga” para quem fica absorto, pensativo, com o olhar perdido; em São Paulo dir-se-ia “no mundo da lua”; no Ceará, que o sujeito está “pensando na morte da bezerra”. Fiquei com a ideia que “osga” fosse usada na linguagem informal mineira.
Pois bem, defrontei-me novamente com “osga” no livro “O vendedor de passados”, do escritor angolano José Eduardo Agualusa, que me chegou às mãos por empréstimo da amiga Regina Ribeiro, editora das Edições Demócrito Rocha. Óbvio, portanto – se Agualusa a utiliza do outro lado do oceano -, “osga” não poderia ser apenas um regionalismo mineiro.

Cearensês
Fui a dois dos mais importantes dicionários brasileiros: o Houaiss e o Aurélio, ambos classificam a palavra como “regionalismo”: Norte e Nordeste (Houaiss) ou Amazonas, Pará e Maranhão (Aurélio), dando-lhe “lagartixa” como sinônimo, além de “aversão entranhada; asco, repulsa”.
Consultei o melhor dicionário de cearensês, o “Vocabulário popular cearense”, de Raimundo Girão, que tem o verbete “OSCA – s. f. Porcaria, excremento: ‘osga de galinha’. ‘Uma osga’ significa ‘uma ova’, ‘pra lá’. Do árabe: usga”, sem registrar “lagartixa” como sinônimo.

Dicionário do Nordeste
Apelei ainda ao meu amigo virtual, Fred Navarro, autor do Dicionário do Nordeste (um dos mais completo em termos nordestinos), no qual não encontrei “osga”. Conversei com ele, via e-mail, e Fred me disse que na próxima edição do seu dicionário (previsto para sair em setembro) constará o verbete, tendo como base o Aurélio e o Houaiss.
Interessante é que nem no Houaiss e nem no Aurélio citam “osga” como regionalismo de Minas Gerais. Consultei na internet alguns dicionários de expressões populares mineiras e encontrei a palavra como sinônimo de lagartixa, como dissera a minha amiga.

Eulálio
A propósito, a osga é um importante personagem no livro de Agualusa. Tem até nome, Eulálio, uma osga macho, portanto. O nome próprio da osga diz muito do que ela (ele) é no livro. Se você consultar o dicionário mudando o gênero do nome para o feminino, excluindo o assento agudo, terá uma boa ideia de qual é o papel de Eulálio no livro (isto é, se você ainda não o tiver lido, o que, nesse caso, recomendo).

Mais osgas
Fred Navarro me manda mais sinônimos de lagartixa, isto é de osga: labigó (PI); catonga (SE); catenga (N.E.); carambolo (MA e PI). Documentadas e abonadas, segundo o Fred. [acrescido em 12/3/2012]

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

3 CEARENSES NA ANTOLOGIA BREGA "ASSIM VOCÊ ME MATA", Org. Cláudio Brites

(Natércia Pontes)

(Pedro Salgueiro)

(Xico Sá)

Lançamento do livro “Assim você me mata”, na Balada Literária

[Veja o que já saiu sobre o livro no Globo e no Diário do Nordeste.]
Aconteceu em São Paulo, no dia 2 de dezembro, às 14 horas, durante a Balada Literária, o lançamento da coletânea Assim você me mata, com contos inspirados no universo brega.
O time inclui escritores já consagrados, como Xico Sá, João Anzanello Carrascoza, André de Leones e Marcelino Freire, entre outros.
A lista completa dos autores: Adrienne Myrtes, Alessandro Garcia, André de Leones, Caio Silveira Ramos, Daniel Lopes, Eric Novello, João Anzanello Carrascoza, Kizzy Ysatis, Luciana Miranda Penna, Marcelino Freire, Marcelo Maluf, Natércia PontesPedro Salgueiro, Petê Rissatti, Plinio Camilo, Reynaldo Bessa, Ricardo Delfin, Santana Filho, Valério Oliveira e Xico Sá.

* A antologia pode ser encontrada (ou encomendada) nas livrarias de Fortaleza: Cultura, Siciliano, Arte & Ciências etc.

Título: Assim você me mata
Organizador: Claudio Brites
Editora: Terracota

Gênero: Contos
Páginas: 204
Preço: R$32,00