— O SILÊNCIO DAS LETRAS
O escritor é serzinho esquisito, casmurro, cismado.
Diferentemente da “galera” da Música, do Teatro, das Artes Plásticas e de outras artes mais performáticas, a turma da Literatura é mais calma, comedida, quase invisível, eu diria. Claro que tem suas exceções, os “pindaibeiros” (capitaneados por André Dias e Manoel Carlos da Fonseca, dentre outros) aqui do Benfica adoram misturar suas letras pouco comportadas com o zunido do rock e outras nóias ma(i)s em movimentados lançamentos. As antigas Rodas de Poesias do Centro Dragão do Mar eram recitadas ao som de tambores e guturais gemidos. Outras experiências pouco convencionais pululam aqui e ali em nossa espevitada lourinha destrambelhada pelo sol.
Mas é verdade, sim, que a “cambada” das letras é mais sonsa, desconfiada e tímida. Mesmo aqui, onde os grupelhos literários sempre existiram e fizeram fama com suas “Padarias Espirituais” e “Clãs”, o que impera é a reclusão, o comedimento, o silêncio quase. Cada um nos seus cantos, fazendo na penumbra seus inventos. Quando vêm à luz é para “jogar” suas crias aos familiares e amigos em insossos lançamentos, cavar reles notinhas nos jornais, disputar os farelos e migalhas que, infelizmente, nos restam e cabem, nesse imenso mas ralo latifúndio.
Às vezes até parece que está morta, a nossa literatura, de tão calada, esmorecida. Mas agora mesmo, quando saiu a primeira listagem de semifinalistas do maior prêmio literário do Brasil — o Portugal Telecom — lá estão quatro cearenses de fibra, três deles residindo em outras praças, como grande parte dos conterrâneos: o juazeirense Xico Sá em São Paulo, o saboeirense Ronaldo Correia de Brito em Recife, a fortalezense Natércia Pontes no Rio de Janeiro; e por fim a nossa querida e talentosa Tércia Montenegro, que vem arrebatando quase todos os prêmios de literatura do país (acaba de ganhar o Prêmio Minas Gerais e o Edital da Petrobras). Alguns anos antes, o crateuense Luciano Bonfim, o juazeirense Sidney Rocha e os fortalezenses Diego Vinhas e Alan Santiago venceram outros prêmios nacionais de literatura.

Sidney Rocha
Porém, nos verdadeiros “porões” dessa noite silenciosa de nossas letras, pouco há de festas e recompensas, o que há mesmo é muita gente trabalhando, cerzindo seus poemas, costurando seus romances, lapidando seus contos, urdindo suas peças de teatro. Todos com uma paciência e humildade franciscanas, como se para todos existissem as editoras mais competentes, os críticos mais eficazes, os leitores mais desejados...
E pela quantidade (e por que não dizer, também, qualidade) de nossos autores e livros, temos, sim, que ter muita, muita esperança. Sem ela, nos entregaríamos fatalmente aos “encantos” fáceis do “nosso” famigerado forró-eletrônico (que, impiedoso, invade nossa periferia mental), ao riso fácil do suposto “humor da terra” de “nossas” tristes pizzarias, ao jogo sujo de “nossa” rasteira política partidária. Sem esses seres quase invisíveis (e risíveis, às vezes), sucumbiríamos facilmente às balas que matam mais que em qualquer guerra-civil, aos carros que nos atropelam mais que em modernos joguinhos infantis.
E devem (devemos, sim!) continuar teimosamente nessa luta inglória, incauta, insana de Quixotes sem ao menos um pangaré que nos carregue ou um robusto guarda-costas que nos auxilie.
— ENCONTRO DE ESCRITORES
E na semana passada aconteceu a II Jornada da Letras de Limoeiro do Norte, organizada por Vera Costa, Gilmar Chaves e Eugênio Leandro.
Espera-se que esses encontros se tornem mais frequentes, que sirvam para aproximar os leitores dos escritores (e o contrário, claro), mas principalmente dos livros (esses objetos lúdicos que passam muitas vezes despercebidos nos encontros do gênero, quando deveriam ser as principais “estrelas” das festas).
* Crônica publicada no jornal O Povo.
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